Sistemas silvipastoris: a transição vale a pena?
Os sistemas silvipastoris (SSP) integram gado, pastagens e árvores ou arbustos forrageiros na mesma propriedade para combinar produção pecuária e serviços ambientais.
PRODUÇÃO ANIMAL
8/14/20257 min ler
Os sistemas silvipastoris (SSP) integram gado, pastagens e árvores ou arbustos forrageiros na mesma propriedade para combinar produção pecuária e serviços ambientais (1). Ao contrário da pecuária extensiva tradicional — que em muitas regiões deixa solos degradados (por exemplo, estima-se que cerca de 77% dos solos pecuários na Colômbia estão moderada ou severamente degradados) (2) — os SSP buscam intensificar a produção em menor área, melhorando a eficiência. Na prática, isso implica semear árvores (madeireiras ou frutíferas) e/ou arbustos leguminosos em pastagens rotacionais. A curto prazo, a transição demanda investimento em viveiros e manejo especializado, mas diversos estudos mostram benefícios produtivos, econômicos e ambientais muito superiores aos da pecuária convencional.
Benefícios produtivos e econômicos
Os SSP costumam aumentar a produtividade forrageira e animal. Por exemplo, foi observado que propriedades com SSP podem aumentar a produção de leite em até 46,2% (3). Isso é coerente com os dados de projetos de pesquisa: em Antioquia (Colômbia), um experimento com silvipastoreio relatou "uma maior produção de leite e ganho de peso" do gado, graças à sombra das árvores e aos arbustos enriquecidos (4). A sombra reduz o estresse por calor, e as leguminosas arbustivas (botão-de-ouro, mata ratón, cratylia, etc.) adicionam proteína à pastagem, melhorando o ganho de peso e a fertilidade do rebanho (4, 5).
A eficiência econômica também melhora. Ao incorporar árvores madeireiras, os produtores obtêm receita adicional (venda de madeira ou frutos) e dividem os custos de manutenção entre as atividades. Vários estudos quantificam essas economias: uma iniciativa colombiana detectou que os SSP reduziram em 19% os custos de produção em apenas seis meses (6). Isso se deve a menores gastos com fertilizantes, concentrados ou sal mineral (por melhorarem a fertilidade do solo e a qualidade da forragem) (7). Como resultado, o investimento em SSP costuma se pagar rapidamente: segundo o coordenador do projeto Pecuária Colombiana Sustentável, "é um investimento que se paga sozinho e só traz aumento e melhoria produtiva" (8). No México também foram obtidos resultados favoráveis: por exemplo, no Rancho "Los Huarinches" (Michoacán), a Taxa Interna de Retorno (TIR) aumentou de 0,7% na pecuária tradicional para 13,3% usando silvipastoreio (9). Em geral, os SSP tendem a entregar maior rentabilidade do que os sistemas convencionais: uma análise descobriu que quanto maior a superfície dedicada a SSP, mais alta é a TIR, passando de 12% (5 ha implementados) para 19,4% (15 ha) (10). Em contraste, as explorações pecuárias tradicionais geralmente mostram baixa rentabilidade ou perdas (11).
Bem-estar animal com sombra e alimento diversificado
As árvores na pastagem proporcionam sombra e abrigo ao gado, o que melhora seu bem-estar térmico e produtivo. A sombra das árvores pode reduzir a sensação térmica em vários graus, diminuindo o estresse calórico; diversos estudos indicam que esse refúgio pode aumentar a produção animal entre 8% e 20% (5). Em particular, foi documentado que o pastejo sob árvores eleva a produção de leite em cerca de 12–15% e aumenta a taxa de concepção em 20% (5). Ao mesmo tempo, a sombra reduz o risco de insolação e diminui a mortalidade em épocas de altas temperaturas (5, 12).
As leguminosas arbustivas melhoram a dieta do gado: por exemplo, espécies como a Cracylia ou o Amendoim Forrageiro adicionam vitaminas e proteínas extras à pastagem, favorecendo o ganho de peso (4, 12). Além disso, as árvores protegem contra ventos frios: podem atenuar em até 50% as rajadas e os efeitos do frio (12), estabilizando a temperatura ambiente. Em conjunto, esses fatores aumentam o conforto e a eficiência alimentar do rebanho, traduzindo-se em maior peso e produção de leite por cabeça (4, 5).
Impactos ambientais positivos
Os sistemas silvipastoris oferecem importantes benefícios ambientais. Incorporar árvores e arbustos aumenta a matéria orgânica do solo (folhas e raízes) e melhora sua estrutura, o que favorece a infiltração de água e a retenção de nutrientes (13, 14). Estudos no trópico colombiano mostram que o teor de carbono orgânico no solo pode aumentar mais de 50% com SSP em comparação com pastagens abertas (15). Em nível global, isso significa uma maior captura de CO₂: em um caso, estimou-se que produzir a mesma quantidade de carne com SSP consome 12.000 ha em vez de mais terreno, reduzindo o balanço líquido de gases de efeito estufa em cerca de 3.000 toneladas de CO₂ equivalente (16). As árvores também previnem a erosão e protegem as bacias hidrográficas: a forragem e as folhas secas amortecem o impacto do vento e da chuva, reduzindo o escoamento (14).
Inclusive a diversidade biológica costuma crescer. Uma paisagem mista de pastagens e árvores sustenta mais fauna selvagem e polinizadores do que uma monocultura de pasto. O Serviço Florestal dos EUA relata que os SSP "podem aumentar a diversidade de vida selvagem e melhorar a qualidade das águas" (14). Em contraste com estábulos e currais intensivos, uma pastagem silvipastoril oferece uma paisagem mais atraente e menos problemas de odores, poeira ou pragas (14). Esses benefícios ambientais (melhor qualidade do solo, maior captura de carbono e serviços ecossistêmicos) tornam os SSP um modelo mais sustentável do que a pecuária convencional (14, 17).
Mitos comuns vs. evidências
Mito: "Os SSP reduzem a produção de carne e leite." A evidência contradiz essa ideia. Pelo contrário, ao melhorar o microclima e a qualidade da forragem, os SSP aumentam a produtividade por hectare. Por exemplo, a Fedegán constatou que os pecuaristas com SSP conseguiram elevar sua produção de leite em 46,2% (3). Além disso, como citado acima, diversos estudos mostram aumentos de até 12–15% na produção de leite e melhores taxas de concepção sob as árvores (5). Em resumo, a diversificação forrageira não diminui o rendimento, mas o melhora, ao manter os animais menos estressados e mais bem nutridos.
Mito: "Os SSP são muito caros e inacessíveis." Embora exijam um investimento inicial (mudas, cercas elétricas, mão de obra), a médio prazo reduzem os custos operacionais. Ao cultivar leguminosas melhoradas, economizam-se fertilizantes nitrogenados, e a sombra das árvores reduz a necessidade de energia para refrigeração ou suplementos. O relatório do MinAgricultura da Colômbia mostra uma redução de 19% nos custos de produção em apenas seis meses de implementação de SSP (6). Mais ainda, os produtores entrevistados garantem que o investimento "se paga sozinho" graças aos rendimentos e ao carbono capturado (8). Mesmo pequenas propriedades podem se adaptar: projetos-piloto na Amazônia peruana demonstraram que a integração de bancos de proteína e árvores recuperou solos degradados e melhorou a produção de carne, sem a necessidade de tecnologia complexa (18). Com o apoio técnico adequado (assessoria, viveiros locais, incentivos), os custos podem ser fracionados e a transição é viável até para unidades familiares.
Mito: "Requer muito conhecimento especializado." Os SSP de fato implicam aprender novas práticas (rotação de pastagens diferente, manejo de árvores), mas não são inalcançáveis. Organizações agropecuárias oferecem capacitação gratuita ou subsídios florestais (por exemplo, na Argentina existe uma lei de reembolso de 80% do custo de plantações florestais). Além disso, muitos projetos silvipastoris se baseiam em espécies locais ou resistentes — como eucaliptos, acácias ou leguminosas nativas — fáceis de manejar. Na prática, os primeiros resultados costumam ser vistos em poucos meses, o que motiva os produtores a continuar, tal como relatam coordenadores de projetos de "pecuária sustentável" (8, 19).
Casos de sucesso e experiências
Antioquia (Colômbia): Um projeto universitário-governamental implementou SSP em ~300 propriedades. Ali, observou-se que, após a instalação de cercas-vivas e arbustos forrageiros, "as árvores começam a dar sombra ao gado, gerando uma redução significativa do estresse por calor; os arbustos fornecem mais vitaminas... em conjunto, representam uma maior produção de leite e ganho de peso" (4). Os pecuaristas que participaram relatam leites mais abundantes e gado mais vigoroso em meses quentes.
Michoacán (México): Em propriedades de dupla aptidão sob um sistema tradicional, a rentabilidade era quase nula. Ao introduzir SSP de alta densidade de Leucaena e pastagens melhoradas, um estudo de caso relatou que a TIR passou de 0,7% (tradicional) para 13,3% com silvipastoreio (9). Outras amostragens na região encontraram TIR em torno de 20% com SSP, em contraste com as perdas no sistema convencional (20). Isso demonstra que o investimento em árvores pode transformar ranchos deficitários em negócios rentáveis.
Peru amazônico: Em Loreto e San Martín, projetos com moradores integraram bancos de proteína (arbustos leguminosos) e árvores madeireiras em pastagens. Os resultados foram a "recuperação de solos degradados, melhoria da produção de carne e uma maior reserva de carbono" (21). Em propriedades leiteiras de San Martín, observou-se melhor qualidade do alimento (mais proteína), maior produtividade animal e benefícios ao ambiente ao plantar eucalipto, ingá e leguminosas (22). Esses casos mostram que, mesmo em pequena escala, os SSP combatem o desmatamento e melhoram a renda.
Outras regiões: Embora a maioria das experiências documentadas venha da América Latina, os princípios são globais. Por exemplo, nos Estados Unidos, os SSP aplicados em florestas de coníferas também aumentaram a diversidade selvagem e protegeram os solos contra a erosão (14). Na Europa, esquemas similares de agrossilvicultura pecuária são explorados, aproveitando cercas-vivas para sombra e forragem.
Conclusão
A evidência acumulada indica que a transição para sistemas silvipastoris realmente vale a pena. Em comparação com a pecuária convencional, os SSP oferecem aumentos reais na produção de carne e leite por hectare (3, 4), economia de custos (fertilizantes, suplementos) (6) e melhorias evidentes no bem-estar dos animais (menor estresse térmico, melhor nutrição) (5). Ambientalmente, eles mitigam a pegada de carbono, recuperam solos degradados e enriquecem a biodiversidade local (14, 15). Os principais "mitos" sobre menor produção ou altos custos não se sustentam diante dos estudos disponíveis (5, 6).
Para pecuaristas e estudantes de agronomia, a recomendação é considerar os SSP como um investimento estratégico a médio prazo: a experiência mostra que os custos iniciais são compensados com o tempo e que a diversificação de produtos (madeira, frutos, carne/leite) fortalece a resiliência do negócio. Com boa assessoria técnica e aproveitando subsídios ou incentivos florestais disponíveis em muitos países, a conversão para o silvipastoreio pode ser um caminho rentável e sustentável em direção a uma pecuária mais produtiva e ambientalmente amigável (8, 23).
Referências: Para cada afirmação, são citados estudos científicos, relatórios técnicos e experiências de campo recentes (5, 9, 15, 24), que sustentam os benefícios descritos e desmentem os mitos comuns sobre os sistemas silvipastoris.
(1, 9, 10, 11, 16, 17, 20, 23) dialnet.unirioja.es
https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/10110959.pdf
(2, 13, 15) Evaluación del carbono acumulado en suelo en sistemas silvopastoriles del Caribe colombiano*
https://www.redalyc.org/journal/436/43663511002/html/
(3, 6, 7, 8, 24) El sistema silvopastoril en fincas ganaderas reduce los costos de producción hasta en 19%
(4) Universidad Nacional de Colombia : Sede Medellin - Sistemas silvopastoriles potencian economía de ganaderos en Antioquia
(12, 14) Silvopastoreo: Una práctica agroforestal
https://www.fs.usda.gov/nac/assets/documents/agroforestrynotes/an08s01-e.pdf
(18, 21, 22) Casos de éxito de los sistemas silvopastoriles en el trópico peruano
https://www.agroperu.pe/casos-de-exito-de-los-sistemas-silvopastoriles-en-el-tropico-peruano/
(19) Silvopastoriles permiten disminuir en 19 % los costos de producción | CONtexto Ganadero
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