shallow focus photography of white shih tzu puppy running on the grass

Principais Problemas de Comportamento em Cães

A convivência com um cão também envolve compreender e prevenir possíveis alterações comportamentais. Estudos recentes indicam que mais de 99% dos cães apresentam pelo menos um comportamento problemático de intensidade moderada ou grave.

ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO

6/6/20256 min ler

A convivência com um cão também envolve compreender e prevenir possíveis alterações comportamentais. Estudos recentes indicam que mais de 99% dos cães apresentam pelo menos um comportamento problemático de intensidade moderada ou grave (1, 2). Entre os problemas mais frequentes estão a agressividade, a ansiedade por separação, a destrutividade, os medos ou fobias, o latido excessivo e os comportamentos compulsivos. A seguir, cada um desses problemas é descrito sob uma perspectiva científica e etológica, acompanhado de estratégias práticas de prevenção e manejo.

Agressividade

A agressividade em cães se manifesta por meio de comportamentos ameaçadores ou ataques com intenção de causar dano (3). Pode incluir rosnados, mordidas ou posturas intimidantes, e suas causas geralmente envolvem medo, proteção de recursos, territorialidade ou frustração (3, 4). Na verdade, o medo é a causa subjacente da maioria das agressões caninas (5). Esse problema é muito comum em consultas veterinárias; por exemplo, mais da metade dos veterinários britânicos observaram um aumento de casos agressivos em cães jovens durante a pandemia, associado a uma socialização inadequada nos primeiros meses de vida (6, 7).

Para tratar a agressividade, é fundamental identificar e evitar os gatilhos específicos, além de utilizar técnicas de modificação comportamental baseadas em recompensas. Recomenda-se manter o cão abaixo do limiar de estresse (evitando situações avassaladoras), treiná-lo com reforço positivo e, em casos graves, buscar apoio de um especialista ou considerar medicação ansiolítica (8, 9).

Ansiedade por Separação

A ansiedade por separação ocorre quando o cão experimenta desconforto emocional ao ficar sozinho. Segundo relatos veterinários, cerca de 14% dos cães sofrem com esse problema (10). Ela se manifesta por meio de comportamentos como mastigar móveis ou objetos, latidos ou uivos prolongados, micção ou defecação inapropriada, salivação excessiva e tentativas desesperadas de escapar quando o tutor se ausenta (11, 12).

Essa patologia pode ter diversas origens: é mais frequente em cães separados da mãe antes dos 60 dias ou em machos adotados de abrigos, enquanto a socialização adequada durante a adolescência (5–10 meses) e rotinas previsíveis parecem proteger contra o problema (13).

Diante de sintomas de ansiedade por separação, recomenda-se aplicar dessensibilização (acostumar gradualmente o cão à solidão) e contracondicionamento (associar a ausência do tutor a estímulos positivos, como brinquedos interativos com comida) (14). Também ajuda criar um ambiente tranquilo (por exemplo, um espaço com cama e objetos familiares) e evitar despedidas dramáticas. Em casos intensos, pode ser necessário o uso de ansiolíticos sob supervisão veterinária.

Comportamento Destrutivo

Na conduta destrutiva (mastigar móveis, destruir objetos, cavar no jardim), o cão geralmente está manifestando curiosidade ou ansiedade, e não má intenção. Muitas dessas ações são comportamentos exploratórios normais que surgem quando o cão não recebe exercício ou estímulo suficientes (15). Frequentemente, estão associados a estresse ou tédio: cães ansiosos descarregam essa tensão destruindo coisas quando o tutor está fora (16, 17).

Por isso, é essencial proporcionar exercício diário e brinquedos adequados (como mordedores ou brinquedos dispensadores de comida) para canalizar sua energia (15). Também é recomendável supervisioná-lo ou restringi-lo (por exemplo, em uma área com objetos seguros) quando não puder ser vigiado, evitando danos à mobília.

Medos e Fobias

Cães podem desenvolver respostas de medo intenso diante de diversos estímulos. O medo é uma reação normal a uma ameaça real ou percebida, enquanto a fobia é um medo irracional e exagerado (18). Entre as manifestações comuns estão o temor a outros cães ou pessoas desconhecidas (especialmente crianças), a ruídos altos ou novos (fogos de artifício, tempestades, aspiradores) e a situações ou locais específicos (visitas ao veterinário, superfícies estranhas) (19).

Por exemplo, fobias a ruídos — como trovões ou fogos — são muito frequentes e costumam provocar tentativas de fuga ou esconderijo (20). O manejo desses medos baseia-se no contracondicionamento: expor o cão gradualmente ao estímulo temido em um ambiente controlado, associando cada exposição a reforços positivos (petiscos ou carinhos) para que ele aprenda a reagir com calma. Quando possível, deve-se oferecer um refúgio seguro em casa e, em casos graves, recorrer a medicação ansiolítica com orientação profissional.

Latidos Excessivos

O latido é uma forma natural de comunicação canina, mas pode se tornar um problema se for excessivo. Cães latem por várias razões: excitação, alerta a estranhos, defesa do território, medo, frustração (querer fazer algo e não poder), solidão ou busca de atenção (21, 22).

Para corrigir latidos excessivos, é essencial identificar a causa subjacente. Ensina-se o comando "silêncio", reforçando com petiscos cada período de quietude, e evita-se reforçar o latido (por exemplo, ignorando-o quando late sem motivo). Métodos punitivos (coleiras de choque ou gritos) são desaconselhados, pois apenas reprimem temporariamente o comportamento e aumentam o estresse (23).

Também é útil enriquecer a rotina do cão com exercícios e brincadeiras para reduzir ansiedade ou tédio, que frequentemente acompanham latidos sem motivo aparente.

Comportamentos Compulsivos

Transtornos compulsivos em cães envolvem a repetição incontrolável de comportamentos aparentemente estereotipados e sem propósito, como perseguir o rabo, girar em círculos, lamber-se ou morder-se até causar feridas (24, 25). Assemelham-se a obsessões humanas: geralmente surgem em situações de frustração ou conflito quando o cão não consegue resolver um estímulo estressante (25).

Algumas raças (como Bull Terrier, Pastor Alemão e Doberman) têm predisposição a desenvolver comportamentos estereotipados desde filhotes. O tratamento costuma combinar mudanças ambientais (mais exercício e brinquedos), terapia comportamental (interromper o comportamento e distrair o cão) e medicação. Em muitos casos, utilizam-se inibidores seletivos da recaptação de serotonina (como clomipramina), que reduzem a ansiedade subjacente e melhoram os sintomas compulsivos em muitos cães (26).

Estratégias de Prevenção e Manejo

Prevenção Geral:

  • Socialização precoce: Expor o filhote gradualmente a pessoas, outros animais e ambientes diversos, de forma positiva, para reduzir riscos de medos e ansiedade futura (27).

  • Exercício e enriquecimento: Proporcionar atividade física diária (passeios, brincadeiras) e brinquedos interativos que satisfaçam seu instinto exploratório e evitem o tédio (28).

  • Treino com reforço positivo: Ensinar comandos básicos recompensando sempre o bom comportamento. Evitar punições físicas ou técnicas agressivas, pois apenas suprimem temporariamente o comportamento sem resolver sua causa (29).

  • Rotina e saúde: Manter horários regulares de alimentação e passeios. Consultas veterinárias periódicas ajudam a descartar dores ou problemas neurológicos que possam desencadear comportamentos inadequados (9, 30).

Manejo Específico:

  • Agressividade: Evitar situações conflituosas inicialmente, usar coleira e focinheira se necessário, e iniciar treino de obediência básica com reforço positivo. Em casos graves, consultar um especialista em comportamento animal (8, 9).

  • Ansiedade por separação: Praticar saídas curtas e aumentar gradualmente o tempo fora. Associar a ausência do tutor a brinquedos recheados e música relaxante (14).

  • Comportamento destrutivo: Oferecer alternativas seguras (como brinquedos de mastigar) e supervisionar quando não puder ser monitorado.

  • Medos e fobias: Exposição gradual com reforço positivo e criação de um "refúgio seguro" em casa.

  • Latidos excessivos: Identificar a causa e redirecionar o comportamento com treino e enriquecimento ambiental.

  • Compulsões: Interromper suavemente o comportamento, aumentar exercícios e, se necessário, usar medicação prescrita por um veterinário (26).

Conclusão

Compreender as necessidades etológicas do cão (socialização, exercício, hierarquia clara) e aplicar métodos de treino baseados em reforço positivo ajuda a prevenir e corrigir a maioria dos problemas comportamentais. A detecção precoce de sinais de estresse, uma socialização adequada e o manejo profissional em casos persistentes são essenciais para o bem-estar do cão e de sua família (14, 29).

Fontes: As informações acima baseiam-se em estudos recentes de veterinária comportamental e etologia canina (1, 3, 14, 26), explicadas de forma acessível para tutores. Cada afirmação relevante é respaldada pelas referências citadas.

(1, 2) More Than 99% Of US Dogs Have A Behavior Problem, Texas A&M Researcher Finds – Texas A&M Stories

https://stories.tamu.edu/news/2025/04/01/more-than-99-of-us-dogs-have-a-behavior-problem-texas-am-researcher-finds/

(3, 4, 5, 8, 9, 10, 11, 15, 16, 18, 19, 20, 24, 27, 28, 29) Problemas de comportamiento de los perros - Comportamiento - Manual de veterinaria de Merck

https://www.merckvetmanual.com/es-us/comportamiento/comportamiento-social-normal-y-problemas-de-comportamiento-de-los-animales-dom%C3%A9sticos/problemas-de-comportamiento-de-los-perros

(6, 7) Veterinarios advierten de un aumento de comportamientos agresivos en los perros adquiridos durante la pandemia

https://www.animalshealth.es/mascotas/veterinarios-advierten-aumento-comportamientos-agresivos-perros-adquiridos- pandemia-covid-19

(12, 13) Canine separation anxiety: strategies for treatment and management - PMC

https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7521022/

(14, 17) Explaining Destructive Behavior in Dogs • MSPCA-Angell

https://www.mspca.org/pet_resources/explaining-destructive-behavior-in-dogs/

(21, 22, 23) Excessive barking | Cornell University College of Veterinary Medicine

https://www.vet.cornell.edu/departments-centers-and-institutes/riney-canine-health-center/canine-health-information/ excessive-barking

(25, 26) Frontiers | An Interdisciplinary Approach for Compulsive Behavior in Dogs: A Case Report

https://www.frontiersin.org/journals/veterinary-science/articles/10.3389/fvets.2022.801636/full

(30) Separation Anxiety in Dogs: Signs, Causes, and Prevention

https://www.akc.org/expert-advice/training/dog-separation-anxiety/