a black and white cow standing on a lush green field

Evolução histórica da produção de leite por vaca

Há um século, as vacas leiteiras mal chegavam a produzir alguns milhares de litros por ano. Por exemplo, nos anos 1950, a produção média global rondava 2.000–3.000 L por vaca/ano (cerca de 6–10 L/dia). Atualmente fala-se em 8.000–10.000 L anuais globais, com países líderes como os EUA superando rotineiramente os 10.000–12.000 L

PRODUÇÃO ANIMAL

8/19/20255 min ler

Há um século, as vacas leiteiras mal chegavam a produzir alguns milhares de litros por ano. Por exemplo, nos anos 1950, a produção média global rondava 2.000–3.000 L por vaca/ano (cerca de 6–10 L/dia). Nas décadas seguintes, esse rendimento triplicou ou mais: já na primeira década dos anos 2000, muitos países desenvolvidos registravam médias de 6.000–8.000 L por vaca (20–26 L/dia), e atualmente fala-se em 8.000–10.000 L anuais globais, com países líderes como os EUA superando rotineiramente os 10.000–12.000 L (1). Os dados históricos dos EUA ilustram essa mudança: segundo a consultora OCLA, desde 1950 a produção por vaca aumentou linearmente para cerca de 125 kg/ano, acelerando para cerca de 135 kg/ano desde meados dos anos 90, graças a "melhorias contínuas em genética, tecnologias, manejo da ordenha, reprodução, nutrição e sanidade" (2). Nesse estudo, observa-se inclusive como entre 1940 e 1982 a produção total de leite subiu um terço, apesar de o número de vacas ter sido reduzido pela metade (3). Esse fenômeno (maior rendimento com menor rebanho bovino) se repete em muitas regiões: por exemplo, nos EUA, a população leiteira caiu de cerca de 25 milhões em 1944 para cerca de 9 milhões hoje, enquanto a produção total continuou a crescer (3, 4).

Fatores por trás do aumento de produtividade

A melhoria na produção de leite é multifatorial. Entre os fatores-chave, destacam-se:

  • Melhoramento genético: A inseminação artificial, a transferência de embriões e a avaliação por genômica aceleraram enormemente os avanços. Estudos indicam que a seleção genética explicaria cerca de 50% do aumento na produção nas últimas décadas (5). Desde 1950, o ganho genético permitiu que o rendimento médio crescesse cerca de 3% ao ano (contra 0,8% anterior) (3). Hoje, criam-se vacas com capacidade teórica para produzir dezenas de milhares de litros por lactação.

  • Nutrição otimizada: As rações alimentares modernas (TMR - Total Mixed Ration, forragens conservadas, concentrados balanceados) garantem dietas com energia e proteína adequadas. Segundo a UC Davis, uma vaca de alta produção "usa uma porcentagem maior do alimento para o leite" em comparação com uma de baixa produção, diluindo seus requisitos de manutenção (6). Ao melhorar a qualidade e a disponibilidade do alimento, satisfaz-se a enorme necessidade energética de vacas superprodutivas.

  • Manejo e infraestrutura: O confinamento parcial ou total em estábulos (com janelas, ventilação e camas apropriadas) permite maior conforto e menor gasto calórico; os sistemas modernos de ordenha (carrosséis, robôs, resfriadores rápidos de leite) aceleram o processo e reduzem o estresse. A implementação generalizada de práticas de bem-estar (limpeza de úberes, esterilização de equipamentos, etc.) minimiza perdas de produção por mau manejo. A sanidade animal melhorou muito: vacinas, controle da mastite e diagnósticos rápidos previnem doenças que antes afetavam seriamente o rendimento. Como resumo, "incrementos em nutrição, em tecnologias de produção e na gestão diária do rebanho" explicam boa parte do aumento produtivo (2, 7).

Comparação de raças leiteiras

Nem todas as raças produzem o mesmo, nem com a mesma eficiência. As Holandesas (ou Frísias) são as vacas mais comuns em ordenhas intensivas: de grande porte (cerca de 700 kg quando adultas) e alta produção. Por exemplo, é relatado que uma Holandesa bem manejada pode entregar cerca de 10.000 L em 305 dias (≈33 L/dia) em lactação completa, com casos excepcionais de 12–15 mil litros (8). Em contraste, as Jersey são vacas menores (350–450 kg), com rendimentos típicos de cerca de 5.000 L por lactação (≈16 L/dia) (8). No entanto, seu leite é muito rico em gordura (≈4,5%) e proteína (3,6%) (9), o que as torna eficientes para queijos e manteigas. Raças como Ayrshire ou Pardo-Suíça também se destacam em certos climas: a Ayrshire rende cerca de 7.000 L/lactação e se destaca por sua rusticidade, baixa contagem de células somáticas e longevidade (10). Em resumo, as Holandesas produzem em volume o dobro do que uma Jersey, mas esta última compensa com maior teor de gordura. Muitas vezes, aproveitam-se cruzamentos (por exemplo, "Jerhol" ou "Pardo-Suíça x Holandesa") para combinar volume e qualidade.

Perspectiva global e estatísticas

Em escala mundial, existe muita variabilidade. Um relatório conjunto da FAO-OECD estima que a mediana global de produção de leite por vaca é de apenas cerca de 1.482 kg/ano (≈4 L/dia) (14), pois em vastas zonas da África e Ásia a pecuária continua sendo extensiva. Apenas nos países ricos a mediana supera 6.300 kg/ano (17 L/dia) (14). Por regiões, a América do Norte lidera (mediana de cerca de 7.358 kg/vaca) e a África Subsaariana tem os níveis mais baixos (cerca de 454 kg/ano) (14). Na tabela anterior, pode-se observar que a Índia (maior produtor mundial) tem uma média de apenas 3.000–5.000 L/vaca, enquanto a China passou de cerca de 1.300 kg nos anos 90 para cerca de 3.600 kg atualmente (graças a novas fazendas e insumos) (13). Segundo o USDA, a vaca indiana produz apenas 1/4 do que uma vaca norte-americana média (12). Esses saltos refletem que o crescimento global é alcançado combinando mais animais em países emergentes e mais eficiência em todos os lugares. Nas últimas décadas, a produção de leite mundial cresceu de forma constante, sustentada pela melhoria do rendimento: por exemplo, desde 1961 a produção total quase triplicou, enquanto a população bovina aumentou apenas 60% (14).

Conclusões

O salto de cerca de 8 L/dia por vaca para os níveis atuais se deve a uma "revolução silenciosa": melhor genética (tanto por seleção tradicional quanto por genômica), nutrição de precisão, melhores manejos e tecnologia de ordenha, e um esforço contínuo em sanidade. Esses avanços não apenas duplicaram o leite por vaca, mas também reduziram o impacto ambiental por litro (há mais leite com menos vacas) (12). Por isso, hoje desfrutamos de maior oferta de laticínios a custos menores, embora o desafio futuro seja sustentar essas taxas com práticas sustentáveis e atender à demanda crescente.

Fontes: Organismos internacionais (FAO, USDA/ERS), literatura científica e relatórios técnicos (2, 3, 6, 8, 12, 14).

(1) Sustainable livestock farming: Progress since 1950 - EW Nutrition

https://ew-nutrition.com/us/sustainability-livestock-farming/

(2) OCLA | ESTADOS UNIDOS: evolución del sector lácteo

https://www.ocla.org.ar/noticias/18376358-estados-unidos-evolucion-del-sector-lacteo

(3, 5, 7) How big data created the modern dairy cow - Works in Progress Magazine

https://worksinprogress.co/issue/how-big-data-created-the-modern-dairy-cow/

(4, 6, 11, 12, 13) How Dairy Milk Has Improved its Environmental and Climate Impact | CLEAR Center

https://clear.ucdavis.edu/explainers/how-dairy-milk-has-improved-its-environmental-and-climate-impact

(8, 9, 10) Holstein, ayrshire y jersey, tres de las razas más productivas en ganadería de leche | Agronegocios.co

https://www.agronegocios.co/finca/las-razas-de-ganaderia-de-leche-mas-productivas-3680259

(14) livestockdialogue.org

https://www.livestockdialogue.org/fileadmin/templates/res_livestock/docs/2024_Impact_Report_no_crops.pdf